A CASA DA DONA VÂNIA
Existem alguns lugares pelos quais passamos em nossas vidas, que nunca mais
esquecemos. São aqueles lugares marcantes e maravilhosos, que muitas vezes duram
anos, décadas, toda a infância, toda a adolescência, toda juventude ou quase toda vida.
Porém, alguns destes lugares, não são marcados pela quantidade de tempo e sim pela
intensidade com que vem nos impactar, nos transformar, emocionar e nos encher da
mais intensa felicidade.

Quando em uma visita, um passeio, um comentário, um elogio, quando nos
referíamos aos queridos moradores desta maravilhosa casa, dizíamos assim: a casa
da dona Vânia. A mãe Vânia, o pai Luiz Carlos e o filho Sergio; a família Geia, e
não posso me esquecer da simpática companheira de toda família, a Princesa, uma
cachorrinha muito inteligente que toda pomposa vivia como se fosse a
última bolacha do pacote.
Na Travessa Domingos Cordeiro Gil Nº 186, de frente com a Desembargador
Paulo de Oliveira Costa em nossa cidade de Taubaté, posso contar que tive os melhores
dias de minha vida nesta maravilhosa casa, e agradeço a Deus por um dia ter me
concedido a oportunidade de conviver com esta família. O pai, o ex- goleiro do Taubaté,
que também era formado em Educação física, na época chefe na faculdade da Odonto; a
mãe, na ocasião era professora e o filho estudante e logo depois se formou advogado.
Na minha juventude o Sergio se tornou meu melhor amigo, éramos amigos
desde a infância dos tempos de coroinha, nos tornamos sócios em um carrinho de
hambúrguer e compadres, por ter junto com sua mãe batizado meu filho mais velho;
como dupla de compositores parecíamos com o Roberto e Erasmo e nossa história
acabou virando uma canção. Com isso, passei a frequentar a casa da dona Vânia quase
todos os dias, o Sérgio me dava aulas de violão, e juntos com outro amigo de infância,
seu vizinho Sandrão, ensaiávamos para tocar em casamento; passamos a compor
musicas juntos, eu fazia a letra e o Sergio a melodia, o Sandro tocava baixo, eu tocava
violão elétrico e o Sergio a guitarra e ainda era o nosso vocalista.
Algumas destas canções chegaram a ser tocadas nas missas de domingo e em
casamento, outras em festivais, tocamos na praça do fórum, em Quiririm e pegamos
um quinto lugar com a música Jovens do Sorriso; se bem que merecíamos no mínimo
um segundo lugar, pois só o primeiro tocou melhor que a gente. Depois das aventuras
voltávamos para casa da dona Vânia retomar os ensaios. Não me esqueço do almoço e
me lembro até do gosto da comida, o café com aquele pão com requeijão, como poderia
me esquecer da vitamina inventada pelo Sergio: banana, neston, leite condensado, e
quase meio pote de chocolate em pó batido no liquidificador, até queimava a garganta
de tão doce, mas era uma delicia.
A casa da dona Vânia também era lugar de festas inesquecíveis em nossa
juventude: festa do branco e preto, festa a fantasia, traje a rigor, anos 60, e tantas outras
que marcaram a juventude de todos. Dona Vânia e sr. Luiz Carlos cediam sua casa para
as festas elaboradas pelo Just, o grupo de jovens de Santa Terezinha do qual fazíamos
parte; também fazíamos paródias trocando as letras das músicas e colocando o nome
do pessoal, isso tudo acontecia no quintal da casa, o Sergio tinha um pedestal e um
microfone e um som muito bom, ali dávamos o nosso show à parte.
A casa ficava cheia de jovens, e dançávamos até tarde, mas me lembro que era
sempre com muito respeito, não extrapolávamos em nada, era a casa da dona Vânia;
um lugar especial pra todos. Ali fazíamos festa, ensaiávamos, fazíamos nossas músicas,
confidenciávamos segredos, arquitetávamos planos para o futuro, disputávamos torneio
de xadrez, preparávamos viagens inesquecíveis, ríamos das piadas mais engraçadas,
falávamos de nossas namoradas, organizávamos o futebol, fazíamos o preparativo do
lanche do nosso carrinho de hambúrguer, até o meu cabelo eu cortava. . .
Na casa da dona Vânia!
Quando me casei em janeiro de 1989, foi da casa da dona Vânia que saí para
a igreja, foi lá que me arrumei, ali eu só sorri, nunca chorei, recebeu o amigo do seu
filho, como se fosse um filho também, e sempre muito jovem, elegante e inteligente,
essa mãe tão dedicada, nos deu a sua casa para sermos um pouco mais feliz. Hoje não
podemos ver mais as crianças jogando bola na avenida Desembargador como antes,
participei algumas vezes, já o Sergio cresceu na Avenida com os meninos daquela
época, jogando futebol de rua. O progresso mudou o trânsito da cidade, a avenida agora
é só lembranças, nem a dona Vânia mora mais lá; porém, as minhas lembranças e o
meu coração e a minha alma ainda abrem os portões daquela casa; entro, não com meus
passos, como antes eu entrava; mas, agora, abro os portões com o meu amor, o mais
sincero e mais profundo, e com a mais linda e marcante saudade da casa da felicidade....
Da casa da DONA VÂNIA.
Obrigado por me fazer feliz.
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